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BIOGRAFIA


(Biografia sendo revisada)

FLÁVIO MELLO – O HOMEM QUE ESCREVE CALÇADAS

Por Vinicius Cardoso

Flávio Ferreira de Melo, conhecido no meio literário e acadêmico como Flávio Mello, nasceu em 9 de julho de 1978, na cidade de São Paulo. Filho de Izaias Ferreira de Melo e Elza Elizabeth de Melo, cresceu entre traços e palavras, imerso em um universo doméstico onde a criatividade era semente e abrigo. A herança literária veio do avô materno, Arvidis Briedis, letão exilado da Segunda Guerra Mundial, cuja travessia atlântica trouxe não só o peso da história, mas também o valor da palavra. Foi dele — e também do pai — que Flávio herdou o gosto pelos livros, a sensibilidade da escuta e a crença na linguagem como casa e horizonte.
Ainda criança, usava as paredes como papel e os personagens que criava como forma de dizer o indizível. Com o incentivo dos irmãos mais velhos, especialmente Marcelo Lakavicius, iniciou sua vida artística no punk rock. Aos dezesseis anos, formou a primeira banda, com Marcelo e o amigo Neilor Cruz Paiva. As letras cruas, carregadas de crítica social e lirismo urbano, já sinalizavam o autor que viria: visceral, observador, profundo.
Um acidente grave, aos dezessete anos, o imobilizou por meses. Foi nesse período de dor física e introspecção forçada que a literatura revelou-se como abrigo e instrumento de reconstrução pessoal. O silêncio virou matéria-prima e, a partir dele, nasceu uma escrita feita de escuta, reflexão e resistência.
Com Rosimeire, artista plástica, professora e companheira de vida, com quem teria duas filhas, Alice e Beatriz, compartilhou não apenas o cotidiano, mas uma visão estética voltada aos invisíveis, aos que atravessam a margem. Essa convivência o fez retomar o desenho e aprofundar a poética urbana que já se delineava em sua trajetória. Inspirado por autores como Edgar Allan Poe, Charles Bukowski e artistas como Salvador Dalí, fundou com os amigos a banda Allan Daly, onde unia o sombrio e o surreal, o lírico e o marginal. As letras dessa fase mergulham em angústias existenciais e pressagiam a sensibilidade inquieta de seu futuro como escritor.
Flávio formou-se em Letras pela Universidade de Guarulhos e especializou-se em Práticas e Vertentes - Literatura Africana e Infantil, pela UNINOVE, onde produziu uma fortuna crítica sobre Jorge de Lima, poeta que se tornaria sua principal referência intelectual. O mestrado em Ciências da Religião, na PUC-SP, aprofunda essa relação: sua dissertação investiga a poética religiosa e social de Jorge de Lima, figura que Flávio não apenas estudou, mas incorporou como ética e estética. Durante esse período, apresentou trabalhos em diversos congressos, consolidando-se também como pesquisador.
Sua estreia na literatura se deu com o livro Seleção Natural (2006), seguido por Amar, só se for armado (2008) e o infantojuvenil João e seu baú mágico (2009). Em Contos do Cotidiano (2012), Amor fé Menino (2014) e Seleção Natural e outros contos (2019), sua escrita amadurece: as ruas viram espelho, as calçadas viram confessionário. Com forte carga poética, seus textos transitam entre a crônica lírica e o realismo brutal. Atualmente, prepara Eu Crônico, uma coletânea que amplia sua escuta das pequenas dores urbanas e existenciais.
Em 2018, Flávio deixou São Paulo e fixou residência em Siqueira Campos, no Norte Pioneiro do Paraná. Ali, lecionou por alguns anos até assumir, em 2021, o cargo de Diretor de Cultura, função na qual vem transformando a cena cultural local. À frente de políticas públicas, revitalizou espaços, criou festivais e estruturou a presença da arte no cotidiano da cidade. Fundou a Editora A Gralha Cultural, o jornal literário A Gralha e o jornal informativo Acontece. Liderou eventos como a Semana de Arte Siqueirense, o Festival de Inverno e o ComicS'iq.
Em 2024, foi homenageado com o título de Cidadão Honorário de Siqueira Campos, também recebeu honrarias da câmara municipal, estadual e da Associação de municípios do Norte Pioneiro (AMUNORPI) reconhecimento por seu impacto cultural e afetivo na cidade. Sua atuação também se estende à região: é conselheiro do Museu de Arte e Cultura Popular da UENP (Jacarezinho), integra o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, e desde 2025 preside a Câmara Técnica de Cultura da AMUNORPI, representando 23 municípios do Norte Pioneiro, com atuação voltada à defesa da cultura como direito fundamental.
Além disso, Flávio é membro da Academia de Letras da Grande São Paulo (Cadeira 02, patrono Olavo Bilac) desde 2011, e fundador da Academia de Letras do Norte Pioneiro (Cadeira 01, patrono Jorge de Lima), na qual atuou como primeiro presidente. Sua figura articula pontes entre tradição e vanguarda, sempre atento à diversidade e à experimentação.
Sua obra frequentemente é comparada à de Nelson Rodrigues e à chamada Literatura Marginal, sobretudo pela coragem com que mergulha em zonas psicológicas sombrias e nos subterrâneos da vida urbana. Escreve sobre infância, fé, abandono, masculinidade, escuta, sexualidade e resistência — com uma linguagem que não julga, mas observa, acolhe, ilumina.
Também nunca se afastou da música. Em sua fase mais recente, retorna à sonoridade, agora com o amigo Renato Benedetti, em um projeto de doom metal. As composições — sombrias, densas, filosóficas — ecoam referências como Anathema e Paradise Lost, ampliando sua poética para o campo do som, provando que seu compromisso está com a expressão, em qualquer forma que ela assuma.
Flávio Mello é mais que um escritor. É um artista da escuta, um homem que recolhe palavras nas calçadas, escava silêncios, conversa com memórias e restitui à linguagem sua função primordial: tocar, aproximar, transformar. Caminhante atento, escreve o chão como quem decifra o mundo. E, ao fazer isso, devolve ao leitor a chance de também caminhar — com olhos abertos e coração inquieto.




12/04/2018
Leitores e Leitoras Nosso blog está de volta 12/04/2018


12/04/2018
Leve o Escritor, Palestrante e Professor Flávio Mello para sua cidade, Universidade, Escola ou Espaços Culturais - o autor tem em seu repertório inúmeras palestras e bate-papos sobre Educação, Literatura e Arte. saiba mais pelo blog

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