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SOBRE DEIXAR IR (OU FICAR)


Para Ângelo Simões
E aos meus alunos da 3ª Série do E. M. do CSTA.

Um grande amigo, que por curiosidade tem o nome Ângelo, falou comigo a respeito de uma de suas aulas de Gramática no colégio que trabalhamos, curiosamente um colégio de freiras, e que tem como nome uma homenagem ao santo Tomaz de Aquino... não sei se é curioso ou engraçado, se é que é possível dizer isso. Mas o fato é que esse meu amigo, professor, falou com a turma a respeito de um menininho, um bebê, Alfie Evans, britânico, 1 ano e 10 meses de vida, e que infelizmente está acometido de uma doença cruel e degenerativa, com isso Hospital e o Estado querem parar o tratamento, que obviamente o levará a Morte, os pais (Chiquinho) lutam por mais uma lufada de vida.

Fiquei pensando ao ler a matéria, que reproduzia a defesa que o Papa Francisco havia feito no Twitter a respeito do caso, eu amo o Papa Francisco, o mais pop dos papas, o mais fofo dos papas, o mais..., sei lá... só de pensar que ele existe eu já sinto vontade de chorar, como se acabasse de ler um poema, como se acabasse de ver um bom filme, ouvir uma linda música, ou de me ver sozinho numa sala escura, ao som de música barroca, no ar frio diante da tela de Bosh.

Esse preludio todo pode parecer inútil, mas não é... essa criança veio ao mundo com uma missão, esse sofrimento todo surgiu com algum propósito, e é obvio que não temos capacidade intelectual e espiritual para discernir algo assim... o que dizer? Complicado. Contudo, há alguns anos eu ouvi de minha filha a seguinte história. Alice, tinha na época uns cinco anos, veio até a Me (tade) e eu, estávamos na sala, e nos disse o seguinte:

“Mamãe e Papai... (nesse momento tirei o som da TV), quando eu estava no céu, eu era um anjinho (qual é o nome do professor de Gramática mesmo?), fui até o papai do céu (qual o significado latto de Papa mesmo?) e pedi a ele que me deixasse vir até vocês, para ser a filhinha de vocês, cuidar de vocês... lá de cima sentia que vocês precisavam de mim. Daí PAPAi do céu me perguntou se era isso mesmo que eu queria, deixar de ser anjo para ser filhinha, e eu disse que sim... eu gostava de ficar voando lá em cima, olhando para vocês, aí ele deixou e eu vim morar primeiro na barriga da mamãe. Eu sempre ouvia o papai ler poesia pra mim, ouvir as músicas dele..., e eu adorava chutar as costas dele quando vocês dormiam abraçadinhos...”

Meire e eu... ficamos estarrecidos, abraçamos a pequena, ou pequeno Anjinho... e choramos.

Sabe... essa criança britânica que querem desligar os aparelhos? Sabe essas pessoas que deixaram de ver a “Jiboia que engoliu o elefante”? sabe esse adultos que não são mais capazes de ouvir os anjos? Eles desligaram os ouvidos do coração e a frieza da existência congelou suas veias... esse menino, esse anjinho, acredito eu, fez o mesmo pedido para o PAPAi do céu... e foi morar primeiro na barriga daquela mamãe, que agora luta para que ele possa viver uma hora a mais, um dia a mais, uma semana a mais, um mês a mais, um ano a mais... uma vida a mais. Esse anjinho lindo, que ironicamente foi defendido por um PAPA numa rede social (já parou para pensar nisso?), veio a Terra para chutar as costas daquele pai... vê-lo sorrir, beijá-lo, leva-lo à escola, levá-lo ao cinema, ao primeiro encontro, acompanha-lo no parto do primeiro filho, primeiro neto...

Isso tudo por não acontecer quando um botão passar do ON ao OFF em menos de segundos... segundos que poderiam dar asas a um bebê, que preferiu deixar de viver com Deus para dividir sua existência com pessoas tolas como nós... não sei se acha isso curioso, engraçado... mas uma coisa eu digo... QUE VONTADE DE CHORAR.



Flávio Mello

09/04/2018


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