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SOBRE FUGIR DA CIDADE...


Ouvir Paula Fernandes e ler Tomás Antônio Gonzaga num lugar como Siqueira Campos faz de mim um cara privilegiado, daí você lendo isso deve estar se perguntando: O que uma coisa tem a ver com a outra? Bom..., talvez para você, grande crítico, nada..., mas para mim ouvir SEIO DE MINAS é como que mergulhar nos veios de prata e ouro que brotam da poesia de Gonzaga. 


Em todo caso, se coloque no meu lugar... vivi 39 anos e meio da minha vida insalubre, envolto aos arranha-céus, arcos, viadutos e paredões num sem-fim eterno, imagine você olhar para um céu/espelho que reflete o cinza/chumbo de um asfalto doentio, some a isso o olhar vazio de um sol tímido entre antenas e fios de alta-tensão.

O que mais me doía era caminhar por uma infinidade de pessoas e me sentir sozinho, como no metrô, na barriga de monstro de metal, sentado com meus fones de ouvido e meu livro nas mãos, num erguer d’olhos perceber que 80% das pessoas ao meu redor faziam o mesmo... como é triste se sentir sozinho ao lado de tantas pessoas.

Eu me sentia num bote em mar aberto escrevendo cartas, as colocando em garrafas, e as arremessando ao mar... um mar de concreto, e no fundo eu sabia – ninguém leria.
Minha alma se sentia sufocada dentro de mim, eu podia ouvi-la gritar noites adentro, sem parar, louca... até deixar a voz do meu coração rouca.

Gonzaga estava no criado-mudo (o nome mais poético para um móvel), lembrei da música SEIO DE MINAS da Paula, e o sentimento de Fugere Urbem me tomou por completo, sim é verdade - eu amo PAULA FERNANDES, e sim eu amo Ana Maria Braga, desculpa, agora sim não há relação nenhum com o que quero falar...

O fato é que cá estou, em Siqueira Campos e trabalho em Wenceslau Brás, num colégio de freiras (que eu amo de paixão), todo SANTO dia eu me embriago com o céu desse lugar, com os tons de verde desse lugar, são tantos tons que me sinto um imbecil por não saber descrever, e voltando ao céu... ah o céu... parece um mar infinito com grande navios de espuma, que navegam lentos e pesados como elefantes cansados.

Tiro dezenas de fotos (e mesmo com os moradores daqui rindo de mim) quero postar todas, mas nunca sei que legenda colocar... esses dias fez frio, e uma névoa delicada caiu sobre a estrada, como aqueles véus de mármores sobre mulheres sexys esculpidas por mestres barrocos, foi tamanha beleza, que chorei... quase saí da estrada e me deu uma vontade danada de parar o carro, ajoelhar e agradecer a Deus por ter me presenteado às 6h com aquele banquete poético.


Hoje compreendo quando Dirceu dizia para sua Marília... venha minha amada, vamos passear por esses campos que parecem como você, ele não disse assim, tomei a liberdade de adaptar, ele tinha uma bela Marília... eu tenho três, estou apaixonado por esse lugar, aprendendo a tecer versos com a lã que tiro dessas nuvens, tingindo minhas poesias com o verde desse lugar, bom... era isso... carpe diem.

Flávio Mello
Siqueira Campos, 02/04/2018




1 comentários to "SOBRE FUGIR DA CIDADE..."

  • Flávio,
    Que lindas descrições!

    Estou em meio ao cinza, mas pude imaginar essa poesia presente na vida vivida... Pleonasmo necessário, entenda.

    Obrigada por compartilhar!
    Beijos! =)

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12/04/2018
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